segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Lição 10 - Expiação na Cruz


Pr. João Antonio AlvesProfessor de Teologia do IAENE

Verso para Memorizar: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Colossenses 1:13, 14).

Pensamento-chave: Descrever a experiência de Jesus no Getsêmani e na cruz a fim de entender melhor o significado de Sua morte para nos reconciliar com Deus.

Responsabilidade versus irresponsabilidade. Desde o princípio é este o conflito. O homem, adulto, que se julga dono de seu próprio destino, que se arroga o direito de fazer e acontecer, aparentemente sem temer nada nem ninguém, não assume sua responsabilidade pelas conseqüências de seus atos. Quando apanhado em suas faltas, como uma criança fazendo o que não deve, procura justificativas para suas atitudes. Infelizmente, o melhor que ele pode fazer é apontar o dedo para outro lado, desviando a atenção de si mesmo, e procurando culpar outro(s) por algo decorrente de sua decisão pessoal. São atitudes impensadas, irrefletidas, com resultados inevitáveis, mas a coragem se esvai no momento de assumir a responsabilidade. Foi assim desde o princípio. O homem tornou-se irresponsável. Alguém deve assumir a culpa em seu lugar. No plano da salvação não há lugar para os irresponsáveis. Mas como pode o homem ser salvo se ele é culpado? A maravilha da expiação é que Deus não desculpa o pecado do homem como se nada houvesse acontecido. O próprio Deus assume a culpa em Jesus Cristo. É mediante o sacrifício do Calvário que Deus pode ser justo e justificar o homem pecador.

Dom angústia: Caminhando para o Getsêmani“Foi Jesus a um lugar chamado Getsêmani... e começou a entristecer-Se e a angustiar-Se. Então... disse: A Minha alma está profundamente triste até à morte” (Mt 26:36-38).

“Começou a sentir-Se tomado de pavor e de angústia” (Mc 14:33).

Os versos acima descrevem vividamente o estado de ânimo de Jesus naquela hora de suprema tribulação. Como a Lição explora o significado das passagens referidas, recomendo seu estudo. Aqui pretendemos expor algumas idéias adicionais presentes no capítulo “Getsêmani”, em O Desejado de Todas as Nações, e outras considerações.

As expressões bíblicas são extremamente fortes. Da mesma forma, Ellen White utiliza alguns termos que descrevem quão terrível foi aquele momento para Jesus. Chamamos a atenção para a descrição da tristeza de Jesus, uma tristeza tão profunda que lançava sobre o Salvador a sombra da morte. Igualmente, Jesus foi invadido por uma angústia indescritível, e ficou tomado de pavor. Essas expressões nos apresentam um Jesus completamente humano, que sofre as emoções típicas dos seres humanos quando confrontados por situações-limite, ou seja, que são levados ao ponto extremo de sua resistência emocional.

Ellen White diz que Jesus “gemia alto, como sob a opressão de terrível fardo” (p. 659) e que Seu espírito tremeu diante do abismo do pecado (Ibid). Além disso, ela emprega expressões como “suprema angústia de Sua alma” (p. 660), “uma dor que estava além da compreensão” (p. 661), “semblante mudado pela angústia” (p. 662), “Sua grande agonia” (Ibid.), “tomado de sobre-humana aflição” (Ibid.), “Sua angústia mental, não a podiam compreender” (p. 663) e, talvez surpreendente para alguns, ela menciona o “desânimo” e a “depressão” do Salvador.

Teologicamente, pode-se falar do peso dos pecados do mundo, todos os fardos da humanidade sobre Seus ombros, etc. Mas não se pode passar por alto o aspecto do sofrimento mental extremo suportado por Jesus em Sua humanidade. Isto torna Seu sacrifício por nós ainda mais maravilhoso. Sofreu em um grau de intensidade como nenhum outro ser humano foi chamado a sofrer. Ele, que ansiava por simpatia de Seus discípulos naquela hora escura, também sabe quando nosso coração anseia por um amigo que nos assista em nossas horas difíceis. Por isso, Ele entende quando Seus filhos clamam por socorro, quando estão a ponto de desistir, quando estão pedindo ao Pai para passar o cálice. Deus sabe a extensão e a profundidade de nossas dores. Ele ouve as orações que brotam de lábios sofredores. Vê cada lágrima derramada. Desce para enxugar suas lágrimas.

Nestes dias em que tantos são acometidos por sentimentos tão profundos e dolorosos como os experimentados por Jesus, é maravilhoso saber que temos um Salvador que conhece pessoalmente o que significa sofrer a angústia do abandono, do desamparo, da agonia de alma, do desânimo e da depressão. Essa condição pode se repetir entre cristãos fiéis e, a diferença do que afirmam alguns, não revela falta de fé. As pessoas que passam por tais situações precisam de carinho, compreensão, apoio, ajuda, para superar seus obstáculos e, pela graça de Deus, desfrutar plenamente a vida que Deus lhes deu.

O Cálice: Submissão Voluntária“Passa o cálice adiante. Passa para outro!” Mas... para quem? Não há outro. Somente Jesus podia beber o cálice. Somente Ele estava capacitado para a missão. Ele era o Deus-homem, investido com todos os atributos necessários para conduzir com segurança o plano traçado na eternidade para a redenção do homem.

O cálice que Jesus pedia ao Pai que o afastasse de Seu caminho era o da agonia final. Toda a Sua vida tinha sido de contínuo confronto com Satanás e seus aliados. Estava chegando a hora do último round. Como o expressou Ellen White, “o tremendo momento chegara – aquele momento que decidiria o destino do mundo” e que, diante de tal perspectiva, “a humanidade do Filho de Deus tremia naquela probante hora”. Três vezes Jesus orou, pedindo ao Pai que passasse adiante o cálice porque “três vezes recuou Sua humanidade do derradeiro, supremo sacrifício” (O Desejado de Todas as Nações, p. 663).

Sim, o peso era demasiado, mesmo para o Filho de Deus. Afinal, sobre Ele estavam os pecados de todo o mundo. Mas, apesar de Sua humanidade recuar diante de tamanho sacrifício, Ele não Se deixou vencer pelo medo, pelo terror produzido pela perspectiva da separação entre Ele o Pai, como conseqüência de ser Ele o portador dos pecados. Suas palavras finais revelam Sua total submissão ao plano da redenção e total dedicação à missão de salvar os pecadores: “Não se faça a Minha, e sim a Tua vontade”. Se esta era a vontade do Pai, se este era o caminho único para o cumprimento do plano, então, Ele beberia o cálice. Voluntariamente, sofreria a punição em nosso lugar, para que pudéssemos experimentar a vida que pertence a Ele.

Jesus seguiu adiante com o plano. Não desistiu. Ainda que soubesse o resultado, seguiu adiante. Eram-Lhe mais importantes os resultados relacionados com a salvação de cada um de Seus filhos.

Trevas: Entregue ao Inimigo - Cristo é a luz do mundo. Entrou no reino das trevas, para nos resgatar das trevas para Sua maravilhosa luz. Onde há luz não pode haver trevas. As trevas não subsistem na presença da luz. Entretanto, a experiência de Jesus foi muito real, no sentido de sofrer intensamente a terrível experiência de viver em um mundo dominado pelas trevas.

Sua trajetória em meio às trevas foi progressiva: desceu de Seu lar de luz para um mundo de trevas; daí para o Getsêmani, a hora mais escura para a humanidade; na cruz, trevas literais cobriram a terra; finalmente, foi levado para a sepultura, o reino das trevas e das sombras. Mas não ficaria ali. Sendo o Príncipe da luz, Ele ressurgiu. Ressuscitou das trevas para, por Sua vitória, nos resgatar do domínio dessas mesmas trevas. Naturalmente, trata-se da metáfora para a salvação que Ele concede a todos quantos aceitam seguir Sua luz. “Quem Me segue não andará em trevas” (João).

Nosso caminho será sempre iluminado, se permitirmos que Jesus brilhe sobre nós.

O Grito: Explorando o Mistério - “Deus Meu! Deus Meu! Por que Me desamparaste?”

A profundidade da separação. Naquele momento, Jesus experimentou toda a separação que o pecado pode provocar. Como expressou o profeta Isaías, os pecados da humanidade produzem separação entre o pecador e Deus. Jesus experimentou esta separação, a separação eterna do Pai. Sentiu o peso e toda a terrível conseqüência de levar os pecados do mundo. É freqüente os críticos questionarem o ensino do ministério de Cristo no lugar santo do santuário celestial, afirmando que isso significaria uma separação do Pai, que estaria no Santíssimo, separação impensável no âmbito da Divindade. Embora não ensinemos absolutamente nada que sequer insinue a existência de tal separação, os críticos deixam de considerar que a verdadeira separação ocorreu na cruz. Uma separação voluntária. Jesus sabia quais eram as conseqüências, e ainda assim esteve disposto a pagar o preço. Por isso houve o clamor na cruz: “Por que Me desamparaste?” Este é o clamor que brotou do profundo do ser de Cristo, sentindo o peso dos pecados do mundo, o desamparo, o desagrado do Pai por ser Ele o portador dos pecados. Para o ser humano pecador é difícil, senão impossível, entender quão terrível é o pecado à vista de um Deus santo. “Tu és tão puro de olhos que não podes ver o mal...” (Hc 1:13).

O que os textos bíblicos ensinam é que a obra da redenção produziu o inimaginável, isto é, a inquebrantável comunhão entre o Pai e o Filho foi misteriosamente rompida. Embora o sentimento de abandono esteja presente no texto, existe um aspecto que merece ser destacado. O clamor de Jesus foi assim expresso: “Meu Deus!”. Ainda que Jesus tenha expressado o sentimento de abandono, Ele reteve Sua confiança. Além da confiança no Pai, também é possível perceber Sua paciência e auto-resignação.

Reflexão: Em nossa vida cristã pode muitas vezes acontecer algo – decepção, engano, abandono, etc. – em que sejamos levados a perguntar “Por quê?”. O sentimento de abandono pode ser extremamente forte, quase impossível de suportar. Mas, como Jesus, que manteve a Sua confiança no Pai, apesar do aparente abandono, também nós devemos manter a confiança na direção de Deus em nossa vida. Não significa que escolher confiar nos dê todas as explicações que buscamos, mas a escolha de confiar nos dá forças para prosseguir e superar as perplexidades de nossa existência.

Durante as três horas de duração daquelas trevas sobrenaturais, Jesus esteve em agonia, lutando com os poderes das trevas e sofrendo o desprazer de Deus contra o pecado, pelo qual Ele entregava Sua própria vida. O que aconteceu enquanto durou aquele momento de trevas foi crucial no plano da salvação. Enquanto Jesus lutava com o sentimento de desamparo, de abandono, de solidão – nem mesmo os discípulos O acompanharam naquela hora terrível – os poderes das trevas se aproveitavam da ocasião para levar o Salvador a desistir de Sua missão. Mas Ele permaneceu firme, disposto a beber o cálice até a sua última gota, e assim cumprir com o plano de resgate da humanidade.

Está Consumado: Da Morte Para a Vida - “Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: ‘Tenho sede!’ Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam no vinagre uma esponja e, fixando-a num caniço de hissopo, Lha chegaram à boca. Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: ‘Está consumado!’ E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito” (Jo 19:28-30).

A tradução “Está consumado!” não é completa. O verbo usado no original denota fundamentalmente execução da vontade de alguém, e assim cumprir obrigações ou atos religiosos. Um aspecto é temporal e o outro é teológico. Ambos estão presentes nessa expressão. Em outras palavras: “Missão cumprida!” Jesus realizou a obra que o Pai Lhe confiara. Sua morte na cruz foi o ato de coroação dessa missão. Ele foi obediente até a morte, e morte de cruz (Fp 2). Mas Sua morte não significa derrota. Ao contrário, demonstra de forma inequívoca a vitória de Jesus. Satanás está para sempre derrotado! O destino dos seres humanos depende de sua escolha: aceitar Cristo como seu Salvador e assim tornar-se herdeiros da vida eterna. Apesar da hora sombria, foi um brado de triunfo. Jesus Se encontrava, então, totalmente fora do alcance das tentações de Satanás. Já não mais poderia ser atingido, nem tentado a buscar um caminho alternativo para cumprir Sua missão. Morreu como vitorioso. Alcançou vitória sobre o diabo, as tentações, as palavras enganadoras, o caminho fácil, etc. Posteriormente, Se levantaria como vitorioso sobre a morte. A morte não mais poderia detê-Lo. Afinal, Ele é o doador da vida. Ele mesmo depôs Sua vida para tornar a tomá-la. Ninguém a tirou dEle (Jo 10:17-18).

“Inclinando a cabeça, rendeu o espírito.” A linguagem usada significa que Ele adormeceu. A batalha tinha chegado ao fim. Agora, Ele podia descansar. Cumpriu a missão. Este era o sono de quem executara a tarefa, e a realizara eficazmente. Nada havia sido deixado para trás.

A expressão traduzida como “rendeu o espírito” significa que a morte de Jesus foi um ato consciente, uma oferta dada por Alguém completamente cônscio de Sua missão.

Reflexão: Até onde estamos dispostos a ir para cumprir nossa missão?

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